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Wanheke Ipanana Wha Walimanai
Casa de conhecimento da nova geração
“A nossa cultura é a nossa força de amanhã,
para os filhos de hoje e futuras gerações!”
Francy Baniwa

A ESCOLA VIVA BANIWA está localizada no Noroeste Amazônico, na Terra Indígena Alto Rio Negro, município de São Gabriel da Cachoeira-AM, na região onde residem 23 povos de diferentes línguas, culturas e religiões, formando o território mais indígena do Brasil.

Ela é uma grande conquista para o povo Baniwa e nasce do trabalho de seis anos de pesquisa e escrita do livro Umbigo do Mundo, de autoria de Francy Baniwa em diálogo com seu pai, Francisco Luiz Fontes Baniwa (Matsaape), narrador das histórias orais tradicionais, e com seu irmão Frank Fontes Baniwa (Hipattairi), autor das 74 aquarelas que criadas para o livro.

Francisco Luiz Fontes e Francy Baniwa

“De acordo com nossa cultura milenar, nós somos a herança deixada por Heeko, um demiurgo, lá na Terra-pedra, o centro de formação e origem da humanidade, localizada em Hiipana (Eeno Hiepolekoa ou umbigo do mundo) em Uapuí-Cachoeira, no Rio Ayari. Foi neste lugar que surgiu a humanidade, em especial o povo Baniwa, seus clãs e seus territórios. Dos nossos deuses herdamos uma grande extensão de terras, delimitadas por um conjunto de marcas (petróglifos) que definem o território de cada clã do nosso povo desde os tempos imemoriais. Essas demarcações históricas e ancestrais é que permitem o controle, a governança e a gestão ambiental em nosso território. A nossa terra é o nosso centro do mundo, de onde sabemos nos localizar em relação aos quatro cantos da terra. É daqui que, ao acordarmos todos os dias, sabemos onde vai nascer o sol, o caminho que o sol vai percorrer e onde vai descansar. É o ponto onde são ancorados nosso espírito e nossa alma, desde nossos ancestrais até os dias de hoje e para sempre. A terra, para nós, indígenas, é parte de um complexo universo, que chamamos de Hekoapi, dividido em diversas camadas, cada qual habitada por seres, deuses e espíritos específicos. A terra é a porção central, o meio dos mundos. É de onde nós, indígenas, adquirimos nossos conhecimentos e nos relacionamos com as outras camadas. Para nós, a terra é como uma mãe que cuida dos filhos na concepção, cuida no nascimento, cuida do crescimento, cuida na vida adulta, cuida durante a velhice e cuida novamente quando se chega ao final da vida. Cuida até voltar novamente para dentro da terra. Por isso, temos uma relação de muito respeito com a terra”.
Francy Baniwa

A ESCOLA VIVA BANIWA é a realização do sonho coletivo de fortalecer a transmissão de saberes dos mais velhos e aprender com eles, que são os pilares e a fonte de sabedoria da comunidade. Ela vem para valorizar as línguas Nheengatu e Baniwa, trabalhando para que haja consciência da importância da oralidade e para que nunca se percam as línguas originárias indígenas, que carregam em si riquezas de conhecimentos diversos da vida e da natureza. Fran conta que “ela também abre caminhos para compartilhar com o mundo a nossa forma de pensar e cuidar da nossa floresta, a nossa casa”.

Eixos temáticos:

1. Artes Baniwa: confecção de cestaria de arumã, confecção de instrumentos.
musicais, de pesca e de caça e tecelagem (tucum).
2. Musicalidades: cantos, danças e performances musicais.
3. Fortalecimento das línguas baniwa e nheengatu.
4. Benzimento: transmissão de artes verbais de cura e cuidado.
5. Plantas Medicinais.
6. Artes visuais, audiovisual e fotografia.
7. Construção de Centro Cultural (projeto a longo prazo).

Coordenadores:

FRANCISCO LUIZ FONTES BANIWA
Baniwa do clã Waliperedakeenai, natural da comunidade de Ucuqui Cachoeira, localizada no rio Uaraná, afluente do rio Ayari, parte da bacia do rio Içana. É maadzero — que significa ‘sábio’ para o povo Baniwa. É mestre de danças, cantos, instrumentos musicais, narrador, benzedor, artesão — que aprendeu, por sua vez, com seu pai, tios e avôs dos clãs Waliperedakeenai e Hohoodeni. Poliglota e narrador do livro Umbigo do mundo. Nasceu falando baniwa e koripako; começou a aprender nheengatu com seu pai, e entende kubeo por causa de sua avó materna. Além de saber português e espanhol, também aprendeu a falar wanano em suas andanças e veio a se tornar fluente em nheengatu quando se estabeleceu e casou em Assunção, em sua juventude.

FRANCY BANIWA
Francineia Bitencourt Fontes (Francy Baniwa) é mulher indígena, antropóloga, fotógrafa e pesquisadora do povo Baniwa, do clã Waliperedakeenai, nascida na comunidade de Assunção, no Baixo Rio Içana, na Terra Indígena Alto Rio Negro, município de São Gabriel da Cachoeira – AM. Engajada nas organizações e no movimento indígena do Rio Negro há uma década, atua, trabalha e pesquisa nas áreas de etnologia indígena, gênero, organizações indígenas, conhecimento tradicional, memória, narrativa, fotografia e audiovisual. É graduada em Licenciatura em Sociologia (2016) pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam). É mestra (2019) e doutoranda em Antropologia Social pelo Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGAS-MN/UFRJ). É diretora do documentário Kupixá asui peé itá — A roça e seus caminhos, de 2020. Atualmente coordena o projeto ecológico pioneiro de produção de absorventes de pano Amaronai Itá – Kunhaitá Kitiwara, financiado pelo Fundo Indígena do Rio Negro (FIRN/FOIRN), pelo empoderamento e dignidade menstrual das mulheres do território indígena alto-rio-negrino. É autora do livro Umbigo do Mundo, Mitologia, Ritual e Memória Baniwa Waliperedakeenai – escrito a partir das narrações de seu pai, Francisco Fontes Baniwa, e ilustrado por seu irmão, Frank Fontes Baniwa – lançado pela Dantes Editora em 2023.

O trabalho de pintura em aquarelas de Frank Baniwa para o livro Umbigo do Mundo é uma das manifestações da Escola Viva Baniwa. São desenhos das narrativas dos antigos, expressão da transmissão de cultura Baniwa.