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Apne Ixkot Hâmhipak
Aldeia Escola Floresta
Maxakali
Região de Itamunheque
Zona rural do município de Teófilo Otoni
Minas Gerais

A Aldeia Escola Floresta é uma iniciativa da comunidade Tikmũ’ũn Maxakali, que viveu em um espaço provisório no município de Ladainha (MG). As mais de 90 famílias que compõem a comunidade, junto com suas principais lideranças, Sueli Maxakali e Isael Maxakali – mestres-professores, artistas e cineastas –, lutaram e hoje estão em uma terra onde podem construir seu bem-viver e garantir alegria e dignidade para seus filhos. Nessa terra, eles dão seguimento ao sonho da Aldeia Escola Floresta, um projeto que visa a organização de encontros periódicos de pajés para a formação de novos especialistas da cultura, a estruturação de mutirões para abertura de roças e reflorestamento, a prática da agroecologia, além de oficinas para a produção audiovisual e de arte indígena contemporânea, em paz e prosperidade. Nesse lugar, eles querem, com base nos ensinamentos e na força de sua espiritualidade – os Yãmĩyxop –, reencontrar o equilíbrio de suas vidas com as águas, os animais e a floresta.

A vida nas aldeias é organizada, em grande medida, ao redor e a partir da relação com os povos-espíritos da Mata Atlântica, os Yãmĩyxop, e de seus conjuntos de cantos, que constituem quase um índice de todos os elementos que estão presentes na vida dos Tikmũ’ũn, como plantas, animais, lugares e objetos. Grande parte desses cantos é entoada coletivamente, como o modo mais fundamental de relação com os espíritos Yãmĩyxop que, durante o ritual, são convidados a visitar as aldeias para cantar, dançar e comer. Realizado, muitas vezes, com a finalidade de cura e transformação do mundo, o ato de cantar é praticado entre os Tikmũ’ũn como elemento estruturante da vida, porque é através do canto que se perpetuam as memórias e se constituem as comunidades.

Todos os cantos, juntos, compõem o universo Tikmũ’ũn, que é constituído por tudo o que esse povo vê, sente e com que interage, mas também pela memória de plantas e animais, como as diversas espécies de abelhas, que não existem mais ou ficaram em lugares de seu território originário, de onde os Tikmũ’ũn foram expulsos no decorrer da guerra colonial.

Os povos Tikmũ’ũn, conhecidos como Maxakali, são tradicionais ocupantes da Mata Atlântica. Através dos seus cantos, guardam toda a sabedoria de grandes conhecedores da biodiversidade da floresta. Formam, hoje, uma população de quase 3 mil pessoas vivendo em aldeias em Santa Helena de Minas, Bertópolis, Ladainha e Teófilo Otoni, no estado de Minas Gerais.

Os Tikmũ’ũn sobreviveram a vários massacres, expulsões e desafios e seguem resistindo às dificuldades de se concentrarem em territórios reduzidos e degradados, sem acesso a água limpa. Nos últimos tempos, a cultura Maxakali vem recebendo reconhecimento em todo o mundo através do cinema, da fotografia e das artes plásticas, com obras exibidas em festivais e galerias internacionais.

Isael Maxakali nasceu em 1978, na aldeia de Água Boa, em Minas Gerais, onde cresceu ouvindo e aprendendo os cantos e histórias dos espíritos Yãmĩyxop. Hoje vive na aldeia de Ladainha, em Minas Gerais. Em 1993, casou-se com Sueli Maxakali, sua companheira de vida e trabalho. Na virada do século, ele assumiu a kuxex, casa dos cantos, tornando-se uma jovem liderança do seu povo. Foi indicado como professor pelas lideranças locais, aproximou-se do universo não indígena e começou a participar de atividades ligadas à Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em Belo Horizonte. Graduou-se no curso de Formação Intercultural para Educadores Indígenas, na UFMG. Movido pelo desejo de mostrar a cultura Maxakali, iniciou seu percurso pelo cinema. Hoje é um dos principais diretores indígenas em atuação no Brasil, desenvolvendo uma obra constituída por filmes-rituais, documentários e animações. O cinema de Isael é indissociável de sua trajetória como liderança política, professor, pesquisador, desenhista, tradutor, aprendiz de pajé e cantor, conhecedor de parte do vasto repertório mantido e recriado pelos Maxakali. Em 2020, recebeu o prêmio Carlos Reichenbach de Melhor Longa-Metragem da 23ª Mostra de Cinema de Tiradentes com o filme Yãmĩyhex: as mulheres-espírito (2019), dirigido com Sueli Maxakali. Recebeu também o Prêmio PIPA online, uma das principais premiações de arte contemporânea do Brasil. Atualmente sonha com a aquisição da terra para onde se transferiu com mais de 100 famílias Maxakali, para a criação do seu projeto Aldeia Escola Floresta.

Sueli Maxakali nasceu em 1976, no município de Santa Helena de Minas, e é uma liderança do povo Maxakali, povo indígena originário de uma região compreendida entre os atuais estados de Minas Gerais, Bahia e Espírito Santo. Forçados a se deslocar de suas terras ancestrais para resistir a diversas agressões que se acumulam há séculos e que chegaram a deixá-los em risco de extinção nos anos 1940, os Tikmũ’ũn mantêm vivas sua língua e sua cultura, estando hoje divididos em comunidades distribuídas pelo Vale do Mucuri, em Minas Gerais. Além de liderança, educadora e fotógrafa, Sueli é também realizadora audiovisual. Com Isael Maxakali, ela tem produzido alguns dos filmes mais emblemáticos da produção da arte indígena contemporânea, no sentido de registrar e difundir rituais e tradições ancestrais, ao mesmo tempo transcendendo, com sua poesia, o engajamento na luta pelos direitos dos povos originários. Na 34ª Bienal, a artista apresentou a instalação Kumxop koxuk yõg (Os espíritos das minhas filhas), um conjunto de objetos, máscaras e vestidos que remetem ao universo mítico das Yãmĩyhex, as mulheres-espírito.