Skip to main content

   

Bahserikowi
Centro de Medicina Indígena
Tukano
R. Bernardo Ramos, 97 – Centro
Manaus
Amazonas

O Bahserikowi – Centro de Medicina Indígena oferece aos moradores de Manaus tratamentos tradicionais de cura e proteção aplicados por pajés das etnias Desana, Tuyuka e Tukano. Foi sonhado e idealizado pelo antropólogo indígena João Paulo Lima Barreto e é resultado de muita luta pelo respeito às medicinas tradicionais indígenas – que, infelizmente, estão perdendo forças na floresta, devido a influências da Secretaria de Saúde Indígena (Sesai) e de missões religiosas.

No mundo ocidental, elas ainda são vistas apenas como práticas espirituais e, devido a isso, não fazem parte das Práticas Integrativas e Complementares (PICS), regulamentadas e oferecidas gratuitamente à população pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O sonho de João Paulo é que o conhecimento dos kumuã, anciãos indígenas que aplicam o chamado bahsese, seja incorporado às políticas públicas de saúde.

João Paulo acredita ser fundamental que os pajés exerçam suas atividades também em unidades de saúde indígena, especialmente com os pacientes que ficam alojados na Casa de Saúde Indígena (Casai), em Manaus, enquanto aguardam tratamento no hospital.

Segundo ele, as práticas milenares de cuidado de saúde são duas: bahsese (benzimentos) e uso de plantas medicinais.

O bahsese é um tipo de benzimento oriundo do Alto Rio Negro, que evoca a presença de seres da floresta que detêm todo o conhecimento sobre a humanidade. Bahsese são conjuntos de fórmulas de “benzimentos” usadas pelos especialistas indígenas para curar doenças. Em outros termos, é o poder e a habilidade dos especialistas (pajés) em invocar as substâncias curativas dos vegetais, minerais e animais e colocar em ação as qualidades sensíveis (amargura, doçura, acidez, frieza) que produzem o efeito de acalmar e curar a doença. É uma manipulação “metaquímica” de produção de remédio.

Plantas medicinais – os povos indígenas usam as ervas e plantas medicinais desde sempre, tendo pleno domínio de suas aplicações curativas para diversos tipos de doenças. Existem ervas e plantas para prevenção e tratamento de enfermidades, para conquistar a pessoa desejada, entre outras. A floresta guarda todos os tipos de remédios.

O grande e antigo sonho é que o Bahserikowi seja uma “escola” ou um centro de estudos avançados sobre os conhecimentos e práticas indígenas. Assim, o Bahserikowi não se limita apenas a consultas e tratamentos de saúde, mas é também um espaço de diálogo com outros saberes e de intercâmbio cultural; uma casa de oficinas de saberes indígenas com os jovens indígenas e não indígenas; uma casa de festas tradicionais, de formação de futuros novos kumuãs, para que esse saber tão ancestral se fortaleça nas diversas aldeias.

João Paulo Lima Barreto nasceu na comunidade São Domingos, no Alto Rio Negro, estado do Amazonas, Norte do Brasil. É um ativista indígena do povo Ye’pamahsã (Tukano), antropólogo e professor na Universidade Federal do Amazonas (Ufam). Foi o primeiro indígena a defender o doutorado em Antropologia pela Ufam. Trabalhou no Ensino Fundamental e Superior e também em organizações indígenas do Amazonas. Foi o idealizador e co-fundador do Centro de Medicina Indígena da Amazônia, uma clínica criada em 2017 especificamente para servir ao povo.

Manoel Lima é kumu/baya. Indígena Tuyuca pertence à etnia Tuyuca Ʉtãpiropona. Nascido na comunidade Porto Colômbia, no Rio Tiquié, no município de São Gabriel da Cachoeira, formou-se como kumu/baya aos 14 anos de idade. Desde os 15 anos começou a exercer o ofício de kumu. Ele conta que começou atendendo o público indígena do Alto Rio Tiquié e, nos últimos 30 anos, tem atendido o público de São Gabriel da Cachoeira, no Alto Rio Negro. Fala com bastante entusiasmo sobre sua trajetória de vida, sobretudo sua formação como especialista e seu exercício do ofício na cidade de São Gabriel da Cachoeira, onde reside atualmente.

Kumu Ovídio Lemos Barreto é pai de João Paulo Lima Barreto, da etnia Yepamahsã. Nasceu na comunidade São Domingos, no Alto Rio Tiquié, região do Alto Rio Negro, município de São Gabriel da Cachoeira (AM). Conta que se especializou aos 19 anos e, desde os 20 anos começou a exercer o ofício de kumu. Iniciou atendendo o público de sua comunidade sob a supervisão do seu pai, que era especialista da categoria yai. Depois da morte do seu pai, assumiu seu lugar e passou a atender o público fora de sua comunidade. É reconhecido pelo público de sua região pelo seu ofício e por ser herdeiro de um prestigiado yai. Mais recentemente, passou a atender o público indígena e não indígena em Manaus. É membro colaborador da equipe de pesquisa do Núcleo de Estudo da Amazônia Indígena (Neai) e participou da experiência chamada Antropomed (Antropologia x Medicina), uma iniciativa de tratamento conjunto de um paciente Yanomami no Hospital de Medicina Tropical, em Manaus. Foi o principal kumu que atendeu o caso de Luciane Barreto, vítima de uma picada de cobra. Os médicos de Manaus queriam amputar a perna de Luciane, mesmo com resistência dos parentes indígenas. O caso ganhou projeção nacional depois de uma bem-sucedida proposição pioneira de tratamento conjunto entre biomedicina e medicina indígena. 

Kumu José Maria Lima Barreto é irmão de João Paulo Lima Barreto. Ele é kumu e também atua no Bahserikowi. Nasceu na comunidade São Domingos, no Alto Rio Tiquié, Alto Rio Negro, município de São Gabriel da Cachoeira (AM). É o mais jovem de todos os kumuã que atuam no Centro de Medicina Indígena. Formou-se como especialista aos 30 anos, e desde os 31 anos de idade exerce o ofício de kumu. É o segundo filho do kumu Ovídio Barreto. Seguindo o caminho do seu avô e de seu pai, sem mesmo passar por formação clássica, aprendeu kihti ukũse e bahsese.

Junto com os três kumuã das etnias Yepamahsã (Tukano) e Ʉtãpirõporã (Tuyuca), soma-se ao time do Bahserikowi o kumu Desana Durvalino Fernandes, do grupo étnico Ʉmukorimahsã. Ele é da mesma região dos três anteriores, mais especificamente do distrito de Pari-Cachoeira, Rio Tiquié, no Alto Rio Uaupés. É filho do respeitado kumu Américo Fernandes, falecido em 20XX. Especializou-se como kumu aos 25 anos, sob orientação de seu pai. Conta que, no primeiro momento, atuou atendendo as pessoas de sua região sob a supervisão de seu pai. Depois da longa experiência junto a ele, passou a atuar como kumu de forma independente. Seguindo a carreira de seu pai, Dudu, como Durvalino é conhecido, especializou-se nessas áreas e tornou-se uma referência entre seus pares. Ele é autor do livro A mitologia sagrada dos Desana-Wari Dihputiro Porã, da Coleção de Narradores Indígenas do Rio Negro, volume 2. É também motorista fluvial da Diocese de São Gabriel da Cachoeira.

Para conhecer mais acesse:

@centrodemedicinaindigena                /bahserikowi