No dia 03 de fevereiro de 2024, às 12h, vai ao ar 心 Kokoro | Coração, a quarta Conversa na Rede. Neste episódio, realizado pelo Selvagem, ciclo de estudos em parceria com o Instituto Tomie Ohtake, Ailton Krenak conversa com Hiromi Nagakura, fotógrafo e ativista japonês que esteve no Brasil em outubro de 2023 para a abertura da exposição Hiromi Nagakura até a Amazônia com Ailton Krenak, em cartaz no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo.
Gravada na casa ateliê de Tomie Ohtake, com tradução consecutiva do japonês para o português e vice-versa, os dois amigos, reunidos após muitos anos, relembram episódios de suas vivências enquanto refletem sobre temas como as fronteiras no mundo contemporâneo, a relação entre floresta e metrópole e a possibilidade de conexão verdadeira entre as pessoas. Kokoro, em japonês, quer dizer coração.
“O coração podia ser pensado como a chave para todas as transformações que a gente deseja no mundo.” – Ailton Krenak
A quarta Conversa na Rede contou com a participação musical de Marlui Miranda, cantora, compositora, arranjadora, pesquisadora e produtora cultural que há mais de 40 anos trabalha com pesquisa de tradições musicais dos povos da Amazônia. Marlui é considerada a mais importante intérprete e pesquisadora da música indígena do Brasil. Do encontro com ela nasceram outros dois filmes, lançados nos dias 6 e 8 de fevereiro. Em Metumji Iáren, fala dos antigos e Abina Wabaku Tade, cantiga de ninar, Marlui canta e conta histórias dos povos Suyá e Juruna Yudja.
A gravação 心 Kokoro | Coração envolveu dois tradutores: Eliza Otsuda e Yoshihiro Odo, que acompanharam e traduziram as falas em tempo real. Eliza foi a intérprete que acompanhou Ailton e Nagakura nas viagens nos anos 1990 e Yoshihiro foi quem traduziu para o japonês e trouxe de volta para o português as falas de Ailton que compõe o livro Um rio um pássaro, lançado pela Dantes Editora em 2023, no semana de abertura da exposição em São Paulo.
Entre 1993 e 1998, Ailton e Nagakura viajaram juntos por diferentes territórios indígenas. A exposição traz os registros dos encontros com os povos Krikati, Guarani – M’bya, Ñandeva e Kaiowá, Yawanawá, Yanomami, Huni Kuï – Kaxinawá, Akrãtikatêjê – Gavião da Montanha e Ashaninka.
Um rio, um pássaro (Dantes Editora, 2023)’, livro que evoca dois tempos do filósofo da floresta, traz como primeiro texto uma costura das reflexões feitas por Ailton durante essas viagens. Ele é a semente dos movimentos do Selvagem em direção ao Japão.
Ainda no âmbito da exposição de Nagakura, foram lançadas as versões em japonês das 7 Flechas Selvagens e do caderno A vida é Selvagem.
A série Flechas projetou o Selvagem para a linguagem audiovisual, abrindo caminhos para novas perguntas. Livres para voar, elas viajam o mundo e ativam consciências e corações.
Acesse aqui a playlist FLECHAS
A vida é Selvagem, de Ailton Krenak, nasce de uma conversa entre Ailton e Anna Dantes em 2021 e traz uma profunda e sensível reflexão sobre a necessidade de nos conectarmos com o que há de selvagem em nós e na vida que nos atravessa.
versão em japonês | versão em português
Antoine De Mena e Tomokatzu Baba integram a Comunidade Selvagem e trabalharam nas traduções e revisões dos materiais, abrindo a frente de textos em japonês.
Na mesma semana, lançamos o Caderno Selvagem Dois tipos de xamãs japoneses: o médium e o asceta, de Carmen Blacker, traduzido do inglês para o português por Mary Hatakeyama e revisado por Anna Barbosa e Marina Matheus, também integrantes da Comunidade.
Este texto integra a antologia ‘Shamans through time: 500 years on the path to knowledge’, editada por Jeremy Narby e Francis Huxley.
Além de ficar disponível no canal do Youtube do Selvagem, 心 Kokoro |Coração fará parte das obras que compõem a exposição. Depois de uma temporada de três meses no Instituto Tomie Ohtake, Hiromi Nagakura até a Amazônia com Ailton Krenak vai para o CCBB do Rio de Janeiro, com abertura no dia 27 de fevereiro e permanência de três meses. A Conversa na Rede entre os dois amigos será exibida em um telão no espaço expositivo.
Nas palavras de Angela Pappiani, entrevistada pelo Grupo Comunicações da Comunidade Selvagem para a ARCA em outubro de 2023, a exposição é a materialização de uma grande amizade. Angela foi curadora adjunta da exposição, que tem curadoria de Ailton Krenak. São escritos por ela os textos que acompanham as fotografias de Nagakura.
Acesse a entrevista aqui
“O Nagakura é uma dessas pessoas especiais. A gente seguiu numa relação de amizade. Nagakura sempre fez essas pontes de um jeito muito especial, muito amoroso. Então é muito mais do que a exposição de um fotógrafo que esteve na floresta, é a exposição de um amigo querido que faz um trabalho primoroso. Ele documenta não só imagens que depois viram livros e exposições, ele divulga muito os povos e o pensamento dos povos que ele fotografa. Então está viva na memória das aldeias a passagem do Nagakura. Isso é afeto. Não foi um fotógrafo que passou lá, fez umas fotos e foi embora. Tinha uma relação verdadeira”.
Em 心 Kokoro | Coração, Nagakura e Ailton dizem:
“Procuro remover as barreiras de diferenças de cultura, nacionalidade e me aproximar do coração das pessoas. Só então tiro a foto. Enquanto a parede do coração estiver fechada, não se consegue penetrar. Mas quando se abre e se consegue entrar, podemos entender um pouco mais o que a pessoa pensa.”
Hiromi Nagakura
“É preciso cultivar um coração como quem cultiva um jardim.”
Ailton Krenak
Texto: Mariana Rotili
Fotos: Fred Siewerdt