A última Flecha lançada foi a sétima “FLECHA 7 – A Fera e a Esfera”, assim como se coloca em seu Caderno Selvagem, as sete flechas lançadas também fazem referência à entidade Caboclo Sete Flechas que emerge nos terreiros de umbanda e do candomblé no Brasil.
A Flecha foi inicialmente lançada em Londres no Barbican Centre e incorporada à exposição Our Time on Earth que ficou em cartaz entre 5 de maio a 29 de agosto de 2022.
O devir da flecha é a ferida. Esta flecha cruza o Oceano Atlântico, no caminho inverso ao da expansão marítima europeia, com o destino de tocar corações civilizados e buscar a inversão da lógica colonialista, reproduzida até hoje pelo fluxo consumidor que devora o planeta e transforma tudo em mercadoria, citando Davi Kopenawa.
(CADERNO SELVAGEM, FLECHA 7, 2021).
Essa Flecha introduz de maneira poética e sensível às consequências do evento conhecido como “expansão marítima”, a transformação do respeito às múltiplas formas de vida para um um mundo que coloniza e transforma tudo e todos em mercadoria.
A noção de mercadoria é apresentada com muita lucidez pelo Xamã Davi Kopenawa, que demonstrou como a relação com a mercadoria foi tornando o pensamento da “sociedade branca” turvo, esfumaçado e invadido pela noite. “Foi com essas palavras da mercadoria que os brancos se puseram a cortar todas as árvores, a maltratar a Terra e a sujar os rios” (KOPENAWA; ALBERT, 2015, p. 407).
A flecha 7 nos convida a pensar em como a lógica da mercadoria age na Terra, a partir da concepção moderna/colonial de progresso, que está infligindo o corpo da Terra com a ganância incontrolável.
O mundo formatado em mercadoria, segundo Rolnik (2019), realiza o desvio da potência vital, a potência de criação é desviada do sentido ético e faz isso, “levada para a direção de produzir mercadoria e ativos financeiros” (ROLNIK, 2019, posição 885).
Na cosmovisão do Yanomami, a ideia de mercadoria, de acúmulo de mercadorias, de arrancar os minérios da Terra só pode causar “fumaças de epidemia” e é isso que os Yanomami não querem que aconteça.
A fera e a esfera é, assim, um manifesto Selvagem – demanda, reclamação, reivindicação, súplica – para que, enfim, seja evidente que integramos um sistema vivo maravilhoso e destruí-lo, por cegueira e ganância, é suicídio coletivo, provocado por alguns humanos.(CADERNO SELVAGEM, FLECHA 7, 2021).
O Selvagem ciclo de estudos lançou a sétima Flecha presencialmente no dia 23 de outubro de 2022, na Casa França Brasil no Rio de Janeiro no evento Plantas Mestras, que contou com o lançamento do livro Plantas Mestras Tabaco e Ayahuasca de Jeremy Narby e uma roda de conversa entre ele, Ailton Krenak, Carlos Papá e Peconquena. O encontro teve abertura com defumação e cantos de Peconquena, do povo ShipiboKonibo da Amazônia Peruana, e de Carlos Papa e também música de Gui Alves e Luiz Guello. No canal Selvagem do youtube também foi disponibilizada a playlist com trechos do encontro. A partir do encontro também foi lançado o caderno selvagem Entrar no mundo – conversa sobre “plantas mestras” Ailton Krenak e Carlos Papá.
A Flecha 7 segue seu percurso nas brechas e frestas, se infiltrando para atingir e regenerar, para denunciar e acalentar. A Expancine Produções se colocou enquanto mais uma Flecheira, lavando as Flechas para serem exibidas no dia 11/12/2021 na abertura do verão de Florianópolis na praia da Joaquina.
Como as flechas estão gratuitamente disponíveis para quem queria compartilhar, quando existe alguma contrapartida envolvida, os Flecheiros podem atuar na colaboração com as escolas vivas, em apoio aos projetos indígenas de fortalecimento e transmissão de saberes tradicionais. O projeto das escolas vivas é uma iniciativa coordenada por Cristine Takuá.
As sete flechas foram lançadas e a agora seguem seus percursos atingindo corpos e mentes, criando insurreição e transformando a lógica cognitiva do desejo capitalista. A Sétima Flecha é um Manifesto Selvagem.
Sim, Somos todos Selvagens
Selvagem é ser filho da Selva.