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Filmes e Flechas

FLECHAS LANÇADAS, SUA DIREÇÃO É RETOMADA

Por 17 de março de 2023outubro 23rd, 2023Nenhum Comentário

Texto de Coletivo Mbya Reko

 

A primeira vivência “Flechas lançadas, sua direção é retomada” aconteceu!

No dia 11 de dezembro de 2022 aconteceu na Tekoá Nhanderekoá a primeira vivência organizada pelo Coletivo Mbya Reko, coletivo que atua como uma rede de conexão entre apoiadores e lideranças indígenas de duas aldeias do litoral sul de São Paulo. Atuamos de forma horizontal e autogestionária. O objetivo central deste coletivo é fortalecer a autonomia das Tekoa, tendo como finalidade sempre manter ações que deixem marcas permanentes, ações essas que possam promover a autogestão das comunidades.

   A construção da vivência teve como apoio a Frente Cultura e Resistência Indígena do PET Educação Popular (Unifesp), que tem como referencial teórico-metodológico a Educação Popular Freiriana, com a intencionalidade e a agenda de ações que busca problematizar o processo e o modelo hegemônico de produção de conhecimento acadêmico, juntamente com o Selvagem – Ciclo de Estudo Sobre a Vida, que articula conhecimentos a partir de perspectivas indígenas, acadêmicas, cientificas, tradicionais e de outras espécies. A totalidade dos estudos – cadernos, conversas, ciclos de leitura, audiovisuais – é oferecida gratuitamente.

   A realização da atividade contou ainda com parcerias como a da Teia dos Povos, que articula e se movimenta junto aos territórios em luta pela retomada e do Museu do Inusitado, espaço cultural voltado a encontros musicais e ações educacionais.

    A Vivência foi realizada em território Mbya Guarani, na aldeia em retomada Tekoá Nhanderekoa, localizada no município de Itanhaém-SP. Sua reocupação acontece desde o início do ano de 2022 e vem [re]existindo com aproximadamente 12 famílias, 50 pessoas entre idosos, jovens e crianças. Organizada pelo Coletivo Mbyá Reko, esse encontro foi pensado para proporcionar uma experiência de aprendizado sensorial, experimentando modos de ver, viver, saborear e aprender em comunidade.

   O dia contou com apresentação do coral, degustação de comidas tradicionais, apresentação de filmes e documentários sobre a cultura indígena, rodas de conversa e dança do xondaro. Todas as atividades realizadas ensinam e expressam parte da resistência Guarani Mbya, que tentamos transmitir e aprender por meio da conversa, da participação, das brincadeiras e da música.

   O encontro foi iniciado e finalizado com músicas tradicionais da cultura Guarani Mbyá, apresentadas pelos corais da aldeia e pelo coral de canto das rezas, que também fizeram o acompanhamento no acontecimento da dança do Xondaro. O coral é uma das formas tradicionais da cultura Guarani Mbya de transmissão de conhecimentos da cultura e fortalecimento da ancestralidade. Os cantos sagrados e a dança do xondaro trazem a história de resistência cultural, a forma de expressão corporal e espiritual sentidas por meio da oralidade. O canto é cura e conhecimento.

   Para conseguirmos ampliar e compreender melhor a multiplicidade de cosmovisão das culturas indígenas e abrir para um diálogo, assistimos as “Flechas Selvagens, uma produção audiovisual do Selvagem – Ciclo de Estudos Sobre a Vida destinada ao público geral e também um convite contínuo para que escolas, universidades, pontos de cultura e projetos comunitários de educação acessem narrativas mais pluriversais.

   Cada flecha é composta por uma narrativa na voz de Ailton Krenak, com roteiro escrito por Anna Dantes. Para essa vivência assistimos A Serpente e a Canoa”, “Metamorfose” e “A Fera e A Esfera”, abrindo nosso primeiro diálogo ao redor da fogueira, onde pudemos aprofundar um pouco mais em conhecer o cotidiano, luta, força e beleza da cultura Guarani Mbyá ao perto do fogo e guiados pela liderança e Cacique da Tekoá Silvio (Karaí Tukumbó), que nos contou um pouco da história da construção da nova retomada e sua situação atual, falando sobre o sonho que mostrou aquele lugar que hoje é símbolo de luta e resistência, a tekoá Nhanderekoá.

   Foi um momento de sentar, escutar e refletir para entender a luta que acontece há 522 anos nesse território (Brasil), e como o Guarani Mbya tem [re]existido. Entender que existe o movimento de cura também na escuta e que ela movimenta a nossa luta, que é coletiva e é a busca do bem viver entre povos.

   Entre um documentário e outro, a vivência buscou mostrar um pouco das comidas típicas da cultura Mbya Guarani como: Pirá (peixe), Kavuré (pão enrolado), Txipá (pão frito), Kanjika (canjica), Uru (frango), Avaxiky (milho verde), Manji-o (mandioca), Narã (laranja), Xanjau (Melancia), Jety (batata doce) e Paková (banana). Dialogando com a necessidade da garantia de territórios que possam prover a segurança alimentar das comunidades.

 

   Após o almoço, em um momento de descanso para as conversas fluírem e o alimento energizar nosso corpo, mente e espírito, tivemos a apresentação do minidocumentário Encantamento do Xondaro”, produzido pelo Museu do Inusitado, trazendo a importância do xondaro na cultura e defesa no modo de ser Guarani Mbyá. Fechamos o dia com a dança do Xondaro, onde todos os participantes da vivência puderam entrar nessa dança de força corporal, mental e espiritual, sendo guiados pelo canto das mulheres e a força dos xondaros.

   Hoje, com a presença do povo Guarani nessa nova retomada, a aldeia resgata a vida e o bem viver para aquela terra. Aos poucos a natureza tem retomado sua resiliência e beleza. A força e a coragem do povo Guarani Mbya protege esse território, a vontade de manter sua cultura viva e seu Nhandereko (modo de ser guarani) é o que fazem permanecer juntos na retomada. Relembrar a importância de fortalecer e reafirmar a cultura Guarani em todos os aspectos, repensar de onde vem nossa comida >DA TERRA<lutar pelo TERRITÓRIO, é o primeiro passo para entender o sentido da nossa luta!

   A comunidade ainda precisa de todo apoio para levantar estruturas e ter acesso a necessidades básicas como sistema hídrico, plantio e alimentação. A realização da vivência colabora para que essas estruturas possam ser minimamente orquestradas, portanto todo o valor arrecadado nessa vivência foi dividido entre o projeto em andamento do Coletivo Mbyá Rekó em parceria com a comunidade, além de fortalecer outras demandas urgentes das Tekoa que fazem parte deste coletivo.

   Agradecemos às lideranças Guarani que estiveram presentes e que compartilharam os saberes ancestrais nesse dia, onde unimos nossas forças para impulsionar as causas e fazer este dia se tornar inesquecível.

   Também estendemos nosso agradecimento aos apoiadores que, sem hesitar, colocaram seus esforços para divulgar e fortalecer o evento, compreendendo que a organização é autônoma, e, portanto, não é uma instituição com fins lucrativos.

 

A vivência foi filmada e o vídeo NHANDEREKOA: TERRA DE RETOMADA pode ser conferido aqui:

 

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