Apresentação na Escola Estadual Bernardo Monteiro | Foto: Gabriel Boroni
“Wazaká: a árvore de todos os frutos” é um espetáculo musical concebido pela professora de artes A Sol Kuaray em conjunto com seus alunos do Ensino Fundamental da Escola Estadual Bernardo Monteiro – Calafate, em Belo Horizonte. Feito a muitas mãos, é fruto de um longo processo de construção, que começou no início do ano e teve sua apresentação no dia 29 de setembro de 2023.
A dramaturgia foi inspirada na Flecha 3 – Metamorfose e na história de Wazaká, da mitologia Makuxi. O mito se passa em um contexto de fim de mundo, onde havia muita escassez, os povos passavam fome e encontravam-se em situação crítica. Em um dado momento, três seres da natureza, Makunaymî, Ani’ke e Insikiran, saem em busca de alimento nesse ambiente nefasto. Em suas andanças, encontram a cutia dormindo de boca aberta e percebem que seus dentes estavam cheios de grãos e sementes diferentes, que nunca haviam visto. Eles decidem segui-la para ver de onde estava vindo tamanha diversidade, e é então que encontram a gigantesca árvore Wazaká. Para poder colher os frutos e levar alimentos para casa, eles decidem cortar a árvore, para que todos aqueles frutos se multipliquem pela terra, espalhando sementes e fortalecendo todas as espécies. A copa da árvore caiu para o norte e é por isso que hoje existem diversas frutas silvestres na região; já o toco da árvore se tornou o grandioso Monte Roraima, e dele começou a jorrar muita água, dando origem aos vários rios do estado de Roraima.
No espetáculo, a grande árvore de todos os frutos representa as etapas do processo de colheita e a diversidade de seres envolvidos nele: sementes, frutos, grãos, pássaros, pessoas, rios, montanhas. Os alunos do 6º ano eram os seres-semente da etnia Xavante: construíram maracás com garrafa pet e grãos, e dançaram ao som da música “Mulheres sementeiras”, de Estela Ceregatti. Os alunos do 7º ano se dividiram entre seres-pássaro da etnia Fulni-ô, construindo seus apitos e fazendo Toré, e ceramistas Tapajós que faziam muiraquitãs. O 8º ano fez todas as pesquisas sobre cada etnia e foi responsável pela cenografia do espetáculo; o 9º ano fez o roteiro junto com a professora, além de trazer a discussão para a contemporaneidade. Os jovens puderam refletir sobre as questões sociais e ambientais que vivemos hoje e, ao conhecer mais sobre os povos indígenas e suas cosmovisões, entender sua importância nas nossas vidas.
“Wazaká: a árvore de todos os frutos” também traz trechos da Flecha 7 – A fera e a esfera e do vídeo de Jaider Esbell, artista visual Makuxi, contando a história de Wazaká, a árvore da vida. Também foi feita uma homenagem à Célia Xakriabá e à Sônia Guajajara pelos alunos.
A professora e artista A Sol Kuaray | Foto: Gabriel Boroni
Em seu trabalho na educação, Kuaray busca transmitir as cosmovisões dos povos originários para que as novas gerações conheçam e se aproximem dessas culturas que, diversas como os frutos de Wazaká, só vão nutrir e alimentar mais e mais à medida que forem espalhadas. Ela se encontra em processo de retomada Payayá, resgatando sua ancestralidade indígena; por isso, não é à toa que essa busca guia seu trabalho e pesquisa. Além de educadora, Kuaray também é artista visual, performer e mestranda na UFMG. Compõe, junto à sua comunidade, a associação “A Casa de Tupã”, espaço integrativo de arte, cultura e meio ambiente localizado em Iraquara – BA, sua cidade natal.
Para quem quiser conhecer mais:
FICHA TÉCNICA
Roteiro e direção: Profª Kuaray e alunos do 9° ano
Contracenando:
Nayara Pereira e Walace Moura como Makunaima.
6° ano: seres sementes da etnia Xavante
7° ano integral: seres pássaros da etnia Fulni-ô
7° regular: muiraquitã da etnia Tapajó
9° ano: pessoas na contemporaneidade
Cenografia: 8º ano
Áudio e vídeos: Mateus Fernandes
Contrarregragem: David e Felipe – 9° Ano
Maquiagem: 9° e 1° Ano
Figurino: 9° e 1° ano
Apoio técnico: Gabriel Boroni e Pierre Levy
Trilha sonora
“Cheguei meu povo” – Badi Assad e Cordel do Fogo Encantado
“Tapinaré” – A Barca
“Mulheres sementeiras” – Estela Ceregatti
“Toré do passarinho” (Fulni-ô)
“Muiraquitã” (as Karuana – etnia Tapajó)
“Deus lhe pague” – Chico Buarque
“Manda Chamar” – Roberto Mendes e Margareth Menezes
Texto: Camila Reis
Edição: Mariana Rotili
Fotos: Gabriel Boroni