WANHEKE IPANANA WHA WALIMANAI
CASA DE CONHECIMENTO DA NOVA GERAÇÃO
ESCOLA VIVA BANIWA
Território: Aldeia Assunção do Rio Içana – 6.690 hectares
População beneficiada: 90 famílias e aproximadamente 700 pessoas, divido em 7 vilas (bairro), Assunção, Mazzarelo, Sagrado Coração de Jesus, Dom Bosco, Santa Cruz, Carará poço e São Francisco
Etnias: Baniwa, Tariano, Kubeo, Werekena, Rupidha, Koripako, Wanano, Tucano e Baré.
Línguas faladas: Baniwa e Nheengatu.
Coordenadores: Francy Baniwa e Francisco Fontes Baniwa
Os Medzeniakonai são habitantes do sistema cultural e multilíngue do Alto Rio Negro, área de aproximadamente 250 mil km², que abrange o noroeste da bacia amazônica, em uma região transfronteiriça região com Venezuela e Colômbia. Somos um dos 23 povos indígenas que habitam o Alto Rio Terra Indígena Negro, vasto território com cerca de 80 mil km², localizado no município de São Gabriel da Cachoeira (AM). Juntamente com este grupo de povos, eles têm uma história profunda que remonta pelo menos 3.000 anos de desenvolvimento cultural único. Suas mais de 90 comunidades, espalhadas ao longo dos rios Içana e Ayari, afluentes do rio Negro que compõem a bacia do Içana, falam Baniwa e Koripako, variações dialetais de um Arawak do norte linguagem; Nheengatu, ou língua geral, da família Tupi-Guarani; Português e Espanhol; como bem como diversas línguas de outros povos que também habitam seu território tradicional, como o Tukano, Wanano e Kubeo, da família Tukano. A bacia do Içana cobre cerca de 35 mil km², dos quais 27 mil km² estão em território brasileiro.
A determinação dos povos Baniwa e Koripako como “Walimanai” (a humanidade que habita o mundo atual) ou “Wakoenai” (os que falam a nossa língua) foi dada pelos não indígenas. Para nós, somos os “Medzeniakonai”, o que significa que somos povos de língua original. Quando fazemos referência aos Medzeniakonai, nós nos referimos aos 19 clãs que compõem a nação de língua Baniwa e Koripako: Baniwa – Walipere-dakeenai, Hohodeni, Dzawinai, Kadaopolittana Liedawieni, Kadaopoliro, Kotteeroeni, Adzaneeni, Maoliene, Paraattana, Moliweni, Awadzoronai, Jurupari Tapuya, Mawettana, Tokedakeenai e Hipattana; Koripako – Komadaminanai, Kapittiminanai e Padzowalieni.
De acordo com a nossa cultura milenar, nós somos a herança deixada por Heeko (demiurgo) lá na terra-pedra, o centro de formação e origem da humanidade, localizada em “Hiipana” (eeno hiepolekoa – umbigo do mundo) em Uapuí-Cachoeira, no Rio Ayari. Foi neste lugar que surgiu a humanidade, em especial o povo Baniwa, seus clãs e seus territórios.
Dos nossos deuses herdamos uma grande extensão de terras, delimitadas por um conjunto de marcas (petróglifos) que definem o território de cada clã do nosso povo desde os tempos imemoriais. Essas demarcações históricas e ancestrais é que permitem o controle, a governança e a gestão ambiental em nosso território.
Nossa forma original de organização social vem desde a criação do mundo e da humanidade, ou seja, é lá em Uapui-Cachoeira que iniciamos nossa forma de autogoverno. Somos parte da sociodiversidade étnica e fazemos parte da pluralidade cultural do Rio Negro. Somos a base da existência da convivência harmoniosa, do bem viver e viver bem nesta terra.
O nosso viver sempre foi a “interculturalidade”, adquirida pela convivência entre os povos Baniwa e Koripako e demais grupos étnicos que habitam historicamente a região do alto Rio Negro. Por isso mesmo é muito importante e fundamental para fortalecer nossa vivência, nossos direitos, nossa cultura, nossos projetos de futuro, de governança e de gestão territorial e ambiental das Terras Indígenas, que são patrimônios da União indisponíveis, imprescritíveis e inalienáveis destinados ao usufruto dos povos indígenas.
A ESCOLA VIVA BANIWA é uma grande conquista para o povo Baniwa, que está no Noroeste Amazônico, na Terra Indígena Alto Rio Negro, município de São Gabriel da Cachoeira-AM. Neste território residem 23 povos de diferentes línguas, culturas e religiões. É o território mais indígena do Brasil.
A ESCOLA VIVA BANIWA nasce do trabalho feito ao longo de seis anos de pesquisa e escrita do livro Umbigo do Mundo (Dantes Editora, 2023), de FRANCY BANIWA em diálogo com seu pai, FRANCISCO LUIZ FONTES BANIWA (MATSAAPE), narrador das histórias orais tradicionais, e com seu irmão FRANK FONTES BANIWA (HIPATTAIRI), autor de 74 aquarelas. A ESCOLA VIVA BANIWA nasceu, assim, por meio das narrativas que são nosso guia para viver bem.
“Aqui é o lugar onde nasci e cresci. É o lugar onde estão minhas tias, avós, primos, amigas e amigos de infância. Aqui está a base de tudo, a base do ensinamento, o que me fez ser quem sou hoje. A comunidade não teve dificuldade de entender o que é uma Escola Viva quando apresentei o projeto. Porque já somos uma Escola Viva. A Escola Viva acontece no momento em que você acorda às quatro da manhã para tomar banho e também quando se deita às seis da tarde, depois de um longo dia de trabalho na roça. Tudo o que somos e o que fazemos na comunidade dentro das nossas casas é escola viva. Todas as cestarias, a arte de cortar a palha, de pescar, de limpar o peixe, de cuidar da roça, tudo isso. O meu pai é uma escola viva. Os meus tios e professores são escolas vivas. Todas as roças são escolas vivas. A nossa comunidade e todos os moradores aqui também. Pelas tranças, pelos cantos, pela bebida fermentada e compartilhada nas manhãs de caribé, que é uma partilha cotidiana, com os risos das mulheres conversando, brincando junto com as crianças e a juventude.”
Francy Baniwa
APOIO MENSAL:
O valor mensal é usado para pagar nossos conhecedores, que atuam na formação dos nossos jovens e das pessoas da comunidade. São nossos doutores indígenas que são os mestres orientadores da Escola Viva.
Mulheres artesãs e Donas de roça: Natália Martins (Werekena), Virginia Olímpio (Baniwa), Isabel Castro (Baniwa), Bibiana Fontes (Baniwa) e, Maria Bidoca (Koripako). Sábios, artesãos e conhecedores: Francisco Fontes (Baniwa), Francisco D’Ávila (Baniwa), Hermes Plácido (Baniwa), Jorgue Idalino (Baniwa), Frank Fontes (Baniwa), Leonor Fontes (Baniwa), Gleibson Fontes (Baniwa), Estevão Fontes (Baniwa).
PRÓXIMOS PASSOS:
Pesquisas sobre o calendário indígena Baniwa, mapeando o território.
Realização de oficinas para estudo do nosso território, oficinas de desenhos e oficinas de cartografia.
Pesquisas sobre os tipos de solo, levantamento de dados de aves, peixes, animais e plantas, com foco em produzir livros sobre a nossa própria casa.
Realização de roças junto à Escola Viva para fortalecer a soberania alimentar e nosso bem viver.
Ensinar a juventude sobre a importância desses saberes ancestrais.
COORDENADORES
Francisco Luiz Fontes Baniwa é indígena Baniwa do clã Waliperedakeenai, natural da comunidade de Ucuqui Cachoeira, localizada no rio Uaraná, afluente do rio Ayari, parte da bacia do rio Içana. É maadzero — que significa ‘sábio’ para o povo Baniwa. É mestre de danças, cantos, instrumentos musicais, narrador, benzedor, artesão — que aprendeu, por sua vez, com seu pai, tios e avôs dos clãs Waliperedakeenai e Hohoodeni. Poliglota e narrador do livro Umbigo do mundo. Nasceu falando baniwa e koripako; começou a aprender nheengatu com seu pai, e entende kubeo por causa de sua avó materna. Além de saber português e espanhol, também aprendeu a falar wanano em suas andanças e veio a se tornar fluente em nheengatu quando se estabeleceu e casou em Assunção, em sua juventude.
Francineia Bitencourt Fontes (Francy Baniwa) é mulher indígena, antropóloga, fotógrafa e pesquisadora do povo Baniwa, do clã Waliperedakeenai, nascida na comunidade de Assunção, no Baixo Rio Içana, na Terra Indígena Alto Rio Negro, município de São Gabriel da Cachoeira – AM. Engajada nas organizações e no movimento indígena do Rio Negro há uma década, atua, trabalha e pesquisa nas áreas de etnologia indígena, gênero, organizações indígenas, conhecimento tradicional, memória, narrativa, fotografia e audiovisual. É graduada em Licenciatura em Sociologia (2016) pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam). É mestra (2019) e doutoranda em Antropologia Social pelo Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGAS-MN/UFRJ). É diretora do documentário Kupixá asui peé itá — A roça e seus caminhos, de 2020. Atualmente coordena o projeto ecológico pioneiro de produção de absorventes de pano Amaronai Itá – Kunhaitá Kitiwara, financiado pelo Fundo Indígena do Rio Negro (FIRN/FOIRN), pelo empoderamento e dignidade menstrual das mulheres do território indígena alto-rio-negrino. É autora do livro Umbigo do Mundo, escrito a partir das narrações de seu pai, Francisco Fontes Baniwa, e ilustrado por seu irmão, Frank Fontes Baniwa – lançado pela Dantes Editora em 2023.