FLECHA SELVAGEM
Série em sete episódios que projeta o SELVAGEM para a linguagem audiovisual.
Uma irradiante miríade de imagens ‘compostadas’ de diversos arquivos indígenas, artísticos e científicos, além de animações e músicas originais. As Flechas abrem caminho para que sejam feitas novas perguntas. São destinadas ao público geral e também um convite para que escolas, universidades, pontos de cultura e projetos comunitários de educação acessem narrativas mais pluriversais.
Estão disponíveis no nosso canal do Youtube com legendas em inglês, francês, espanhol e japonês, e são acompanhadas de Cadernos Selvagem para ler e baixar de graça com informações complementares, propostas de atividades e ativações.
Texto, pesquisa de imagens e direção: Anna Dantes
Narração: Ailton Krenak
Produção: Madeleine Deschamps
Edição: Elisa Mendes
Animações: Livia Serri Francoio
Trilha sonora: Lucas Santtana e Gil Monte
Assistentes de produção: Victoria Moawad, Laís Furtado e Isabelle Passos
A SERPENTE E A CANOA
Na primeira Flecha, A serpente e a canoa, viajamos por teorias científicas contemporâneas e memórias das culturas ancestrais. O fio condutor deste episódio costura duas narrativas: a da canoa cobra, memória originária de povos rio-negrinos, e a serpente cósmica, presente em mitos de origem de diferentes culturas, vista como a dupla hélice do DNA, código de memória presente em tudo que é vivo. A viagem percorre uma sequência que entrelaça saberes indígenas e hipóteses científicas sobre o surgimento da Vida.
- A Serpente cósmica, o DNA e a origem do saber, Jeremy Narby (Dantes, 2018)
- Antes o mundo não existia, Umusï Pãrõkumu – Firmiano Arantes Lana e Tõrãmü Këhíri –Luiz Gomes Lana (Dantes, 2019)
- O mundo Tukano antes dos brancos, Álvaro Tukano (Ayó, 2017)
Consultoria: Jeremy Narby
O SOL E A FLOR
A segunda Flecha, O sol e a flor, associa diferentes visões sobre a relação do Sol com a vida na Terra. É uma narrativa sobre a profunda interação dos raios cósmicos com a matéria verde, que transforma a Terra em um superorganismo vivo. Uma visão da vida na qual tudo está absolutamente relacionado, das cianobactérias ao ozônio. A fotossíntese se apresenta como chave de manutenção do equilíbrio dinâmico e da regulação da biosfera. A teoria de Gaia flui em diálogo com a suspensão do céu, da compreensão Yanomami.
Para além da narrativa científica, é uma Flecha propulsionada, em sua essência, pela narrativa Guarani sobre Nhanderu: o desdobramento do escuro em Sol e do Sol em flor.
- Biosfera, Vladimir Vernadsky (Dantes, 2019)
- A Vida das Plantas, Emanuele Coccia (Cultura e Bárbarie, 2018)
- A Fala Sagrada, Mitos e Cantos Sagrados Guarani, Pierre Clastres (Papirus, 1990)
- A Queda do Céu, palavras de um xamã yanomami, Davi Kopenawa e Bruce Albert
Consultoria: Marcelo Gleiser e Carlos Papá (Cia das Letras, 2015)
METAMORFOSE
Um canal de transformação que leva vida de uma forma a outra. Uma mesma vida conecta vários mundos. No entrelace das partículas que atravessam vidas e corpos, somos quimeras, seres multiespécies.
A Flecha Metamorfose reúne conhecimentos dos povos Tukano e conta com a participação de João Paulo Lima Barreto, autor das obras Waimahsã: Peixes e Humanos e Kumuã na kahtiroti-ukuse, além da narração inicial de Daiara Tukano. A terceira Flecha Selvagem combina a filosofia de Emanuele Coccia com ensinamentos Huni Kuï contidos na expressão Shuku Shukuwe, “a vida é para sempre”.
Baseada nos livros:
- Metamorfoses, Emanuele Coccia (Dantes, 2019)
- WAIMAHSÃ: Peixes e Humanos, João Paulo Lima Barreto
- KUMUÃ NA KAHTIROTI-UKUSE: Uma “teoria” sobre o corpo e o conhecimento-prático dos especialistas indígenas, João Paulo Lima Barreto
Consultoria: Emanuele Coccia e João Paulo Lima Barreto
Apoio: The Roddick Foundation
A SELVA E A SEIVA
A selva e a seiva é uma Flecha Selvagem sobre plantas, especialmente as plantas mestras, chamadas também de plantas professoras; aquelas que abrem a percepção da realidade cósmica da vida. A energia da vida vem do Sol e é tragada pelos seres fotossintéticos, algumas bactérias, algas e plantas. A energia da vida é cósmica.
A Flecha 4 acompanha o percurso da luz à seiva elaborada, seu poder de visão e cura.
Baseada nos livros:
- Una Isï Kayawa, Livro da cura do povo Huni Kuïn do rio Jordão (Dantes, 2014)
- Roça Barroca, Josely Vianna Baptista (Cosac Naify, 2011)
- Carta psiconáutica, Pedro Luz (Dantes, 2015)
Consultoria: Dua Busë e Cristine Takuá
Apoio: Domitille Camus e IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas
UMA FLECHA INVISÍVEL
Uma flecha invisível se destina ao microcosmos. Concerne a um estado de grandeza física mensurável em escala infinitesimal; e, conjuntamente, considera a condição invisível da presença de outras dimensões, espirituais, paralelas e agenciadoras da vida no planeta.
“Tudo que vemos é uma expressão do invisível.”
A Flecha 5 também dialoga com as demais. Em A serpente e a canoa, mergulhamos na galáxia oculta a olho nu. O sol e a flor tem como essência a atividade de seres fotossintéticos, como as cianobactérias. Metamorfose proporciona a visão do papel fundamental dos seres invisíveis para a permanência da vida na Terra e sua transformação contínua. A selva e a seiva revela a sabedoria contida no belo sistema de regulação da vida.
Baseada nos livros e Cadernos Selvagem:
- Livro de Seres Invisíveis, Dorion Sagan (Dantes, 2021)
- Seres criativos da floresta, Cristine Takuá (Cadernos Selvagem, 2020)
- Propriocepção, quando o ambiente se torna o corpo, Lynn Margulis, Dorion Sagan, Ricardo Guerrero e Luis Rico (Cadernos Selvagem, 2020)
- Carta do chefe Seattle comentada por Ailton Krenak (Caderno Selvagem, 2021)
- A Queda do Céu, palavras de um xamã yanomami, Davi Kopenawa e Bruce Albert (Cia das Letras, 2015)
Consultoria: Dua Buse e Cristine Takua
Apoio: Ludivine Camus
TEMPO E AMOR
A segunda lei da termodinâmica é a única lei geral da física que distingue passado e futuro. Como uma flecha do tempo, o calor passa somente de corpos quentes a frios, nunca ao contrário. Se nada é provocado externamente, um corpo frio não se torna quente. Esse fluxo natural de dissipação dança com outro: o fluxo biológico da vida, que aglutina e envolve Gaia numa metamorfose contínua.
O fluxo biológico, o metabolismo da Terra, é amor que reelabora os elementos e mantém o pulsar coletivo. Através da experiência de trançar compreensões científicas, artísticas e tradicionais, esta Flecha fala de entropia e sintropia, sem mencionar estas palavras.
É uma visão de Gaia no cosmos, sonhada pela Avó do Mundo, que nos observa até hoje, sentada em seu banco de quartzo branco. É também um comentário sobre o medo da humanidade de lidar com a natureza da vida e sua busca para inverter a lei do tempo com métodos, máquinas, filtros antienvelhecimento.
Talvez seja uma Flecha sobre o feitiço que dissociou humanos dos ciclos naturais. Ela foi inspirada pela beleza das relações colaborativas que são feitas no tempo e no espaço, como plantar uma árvore que um dia será a canoa de alguém futuro. A consciência de que habitamos com gratidão o mesmo jardim planetário.
Em Tempo e amor, Lygia Clark é a avó do mundo, Arthur Bispo do Rosário é amor incondicional. Tem Miró e sua mulher sonhando com uma evasão, Herança de Thiago Rocha Pitta e muitas associações imagéticas.
O tempo difere de acordo com o ponto de observação.
Que esta flecha se multiplique a cada olhar, a cada escuta.
Baseada nos livros:
- Regenerantes de Gaia, Fabio Scarano (Dantes, 2019)
- A ordem do tempo, Carlo Rovelli (Objetiva, 2018)
Consultoria: Alice Worcman e Luiz Guilherme Lutterbach
Apoio: Luiz Zerbini e Vert
A FERA E A ESFERA
Ele atirou.
Ele atirou e ninguém viu.
Só Sete Flechas é quem sabe
Onde a flecha caiu. *
O caboclo é uma manifestação encantada das matas brasileiras. No Brasil, o Caboclo Sete Flechas emerge nos terreiros da umbanda e do candomblé. A sétima Flecha Selvagem é a última da série de audiovisuais criada pelo Selvagem, ciclo de estudos sobre a vida. Com o título A fera e a esfera, esta flecha “caiu” em Londres, no Barbican Centre, incorporada à exposição Our time on Earth.
O devir da Flecha é a ferida. Esta Flecha cruza o oceano Atlântico, no caminho inverso ao da expansão marítima europeia, com o destino de tocar corações civilizados e buscar a inversão da lógica colonialista, reproduzida até hoje pelo fluxo consumidor que devora o planeta e transforma tudo em mercadoria, citando Davi Kopenawa.
A fera e a esfera é, assim, um manifesto Selvagem – demanda, reclamação, reivindicação, súplica – para que, enfim, seja evidente que integramos um sistema vivo maravilhoso e que o destruir, por cegueira e ganância, é suicídio coletivo provocado por alguns humanos. É fundamental a transformação cognitiva do desejo capitalista de como estar no mundo e a permissão para que a floresta se reinfiltre em nossos sentidos.
* Ponto do Caboclo Sete Flechas. Pontos são músicas ao som de atabaques para chamar e saudar a presença das entidades e orixás. Orixás são divindades reconhecidas pela cultura Iorubá.
Apoio: Barbican Center de Londres