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Percursos

TODA VIDA APONTA PARA O SOL

By 17 de maio de 2024One Comment

Maestro, gerador, Criador, um pai, uma mãe, astro-rei, ponto de referência, farol no espaço além da atmosfera. O que pode ser o Sol? Quem pode ser o Sol? 

Foi a partir da energia cósmica irradiada pelo Sol que a vida pôde surgir, se transformar e se expandir na Terra. Ainda hoje é o mesmo Sol que aquece nosso planeta, que define nossos tempos e ciclos, que ativa os transformadores – seres que fazem a fotossíntese, como cianobactérias, algas e plantas – e, através deles, permite que o movimento circule por todos os outros seres vivos.

Em 2024, voltamos nosso coração Selvagem na direção do Sol. Nesse sentido estão sendo realizadas, como parte do ciclo Sol, filmagens, oficinas, rodas de conversa; e, no dia 17 de abril, nosso primeiro Percurso Selvagem também se deu em torno do Sol. Mais de 60 pessoas se reuniram para escutar e compartilhar referências, experiências e estudos.

Na última quarta-feira, publicamos o mapa do Percurso Plantas, que guiará o segundo encontro do grupo no dia 22 de maio, às 19h.

Os Percursos propõem navegações a partir de temas que habitam os estudos do ciclo Selvagem, através de mapas e conversas conduzidas por Anna Dantes e Daniel Grimoni. Cada tema é cartografado e os mapas, disponíveis em nosso site para estudo, guiam um encontro online nas semanas seguintes à sua publicação. 

Trata-se de uma sugestão, algumas direções para quem deseja entrar (ou se aprofundar) no estudo dos temas de nosso ciclo, incluindo possíveis referências externas. 

Todo mapa, como todo texto, está sujeito às nuances de cada leitura. Como se abre o mapa? Como se lê o mapa? Por onde começar a percorrê-lo?


Antes o mundo não existia. Foi Yeba Buró, a Avó do Mundo, quem criou Abe, o Sol, que girava por si mesmo desde o princípio. O Sol foi fonte de vida e fertilidade. Energia de criação que, ao prover a luz e o calor necessários para que a vida na Terra surgisse e aprendesse a crescer, foi quem organizou o aparato para sua própria captura e transformação: a massa verde da biosfera. 

Seres invisíveis, microscópicos, além de constituírem uma diversidade abundante de formas, comportamentos, arranjos e todo tipo de aspecto, incluem também as principais organizadoras da Biosfera como a conhecemos. Cianobactérias e diatomáceas, invisíveis seres fotossintetizantes, são responsáveis pela maior parte do oxigênio atmosférico, além de converterem uma grande quantidade de energia solar em outras formas de energia por seu metabolismo.

Na superfície da Terra, tanto na água como no solo firme, seres fotossintéticos, os transformadores, recebem a energia solar e a transformam em novas formas de energia terrestre livre. Assim a vida se movimenta e toda vida se irmana – por sua origem, pelo DNA que habita todos os seres vivos, mas também pelo Sol em comum sobre todas as cabeças. A luz do sol guia o movimento das plantas, os ciclos dos pássaros, os percursos humanos, a chuva, a seca, as abelhas. 

Para os Desana, dentro do cérebro há uma partícula de energia solar. São também os Desana e outros povos do Rio Negro que afirmam que a vida na Terra veio do espaço, há muito tempo. O biólogo russo Vladimir Vernadsky afirma que a biosfera, a camada viva da Terra, é uma criação cósmica, um fruto da transformação causada pela energia além da atmosfera – antes de tudo, do Sol. 

O Sol em nossa cabeça. 

O Sol gera movimento, mas ele próprio também se movimenta no cosmos, junto aos planetas em seu entorno, traçando geometrias invisíveis aos nossos olhos. Flores que se desdobram no espaço além da nossa atmosfera, em velocidades inimagináveis. Uma dança. Também pelo nome de Nhamandu atende o Sol. Nhamandu apareceu na noite originária, desdobrando-se como uma flor que todos os dias saúda a vida na Terra, e para onde se voltam os cantos de rezadores e rezadoras. Junto à dança, o canto. A palavra que se volta para a fonte de toda a vida.

Toda vez que uma vida nasce, por sua vez, repete esse movimento: é um Sol que surge do escuro – seja de um ventre, de um ovo, do interior misterioso de um organismo que duplica a si mesmo. Todos somos sóis vivos, diz a sabedoria filosófica dos povos Bakongo. As plantas crescem para falar com o Sol, dizem as crianças. O Sol também fala, canta, faz música através de ondas eletromagnéticas. E também os seres humanos, outros animais, algas e uma infinidade de seres invisíveis falam com o Sol todos os dias. 

Toda vida aponta para o Sol à sua maneira. Na superfície terrestre, as plantas são talvez os seres mais reconhecidos por seu diálogo direto com o Sol. As plantas transformam a energia cósmica em seiva elaborada, que corre por seu corpo, seus galhos e raízes. As plantas também curam, alimentam e ensinam, oferecem abrigo e inspiração. Pajés, xamãs e outros mestres do invisível aprenderam com as plantas a expandir sua consciência e sentir o mundo à sua volta de outra maneira. Assim é possível enxergar a teia de vida que une tudo na Biosfera. 

A teia reflete o Sol.

 

Foto: Myriam Zilles

 

O encontro online foi gravado e pode ser acessado aqui.

O mapa do Percurso Sol, assim como dos demais Percursos, está disponível no site Selvagem.

 

Texto: Daniel Grimoni



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