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AGIR POUR LE VIVANT

Por 20 de janeiro de 2023outubro 23rd, 2023Um Comentário

Entre 22 e 28 de agosto de 2022, aconteceu em Arles, no sul da França, a terceira edição do Agir pour le Vivant [Agir pelo vivo], festival que une vários pensadores de diferentes gerações e países para refletir e construir uma sociedade dos vivos, onde a vida (humana e não humana) esteja acima de tudo. 

Anna Dantes, Madeleine Deschamps, Cristine Takuá e Carlos Papá foram convidados a participar de palestras e da residência “Novos desenhos ecológicos”. Junto a um grupo maior de participantes, eles refletiram a respeito dos discursos correntes sobre ecologia e cuidado com o meio ambiente e trabalharam para transformá-los em algo mais vivo, instigante, criativo e plural. Para isso, a residência colocou em contato perspectivas africanas, europeias e sul-americanas na busca por caminhos de habitar e agir no mundo a partir de saberes locais, criando diálogos que desenham novas utopias ecológicas e movimentam a construção de futuros desejáveis.

Anna, Cris e Mada apresentaram a palestra “A humanidade que pensamos ser”. Em torno de um café da manhã, os processos do Selvagem foram compartilhados. Anna contou as histórias da Dantes e do Selvagem, Cris falou do tempo ancestral, do tempo das coisas e do respeito para com esse tempo, destacando as qualidades de concentração e escuta que se perdem nas sociedades capitalistas ocidentais, exaustivamente assombradas pelas correrias e ansiedades. Houve forte interação com o público e muito interesse pelas ações que o Selvagem realiza.

Na conferência La cosmologie des liens et savoirs ancestraux [A cosmologia das conexões e saberes ancestrais], Cris compartilhou visões sobre a comunicação entre diferentes formas de vida que convivem no mesmo território, lembrando que tudo é espírito e está interligado. Contou do trabalho de resistência que faz junto a Carlos Papá em sua comunidade na Aldeia Guarani do Rio Silveira, que tem criado ações de reencanto que atraem crianças e jovens e os faz valorizar os saberes ancestrais, garantindo, assim, a transmissão da memória viva e sua continuidade. Falou do escuro como mãe de todas as coisas: começo, meio e fim dos ciclos da vida na Terra e também fez um chamado de fortalecimento das Escolas Vivas, ecoando a urgência de repensarmos a função da escola na vida das crianças. Cris defendeu uma escola que produza vida e não medo, uma escola que seja um espaço de cura da alma, que fale de sonhos, de plantas e seja um caminho de acesso ao bem viver, num aprendizado que tem o respeito a todos os seres, visíveis e invisíveis, como a raiz de conhecimento e ação. 

A passagem do Selvagem por Arles foi acompanhada por três das sete flechas que compõem a série audiovisual. Duas abriram palestras e uma foi mostrada durante a residência, provocando perguntas, reflexões e ramificando debates férteis. Foi muito potente!

A Flecha 3 Metamorfose, conduzida pelo livro Metamorfoses de Emanuele Coccia (Dantes, 2020), fala sobre transformação e parentesco cósmico. Tudo o que é vivo compartilha da mesma existência multiplicada em uma infinidade de formas. A vida seria, portanto, uma dança de forças e fluxos que atravessam vários corpos e conecta vários mundo, em contínuo movimento e invenção.

A Flecha 4 A selva e a seiva fala de plantas, especialmente as plantas mestras, chamadas também de plantas professoras, aquelas que abrem a percepção da realidade cósmica da vida. Ela acompanha o percurso da luz à seiva elaborada, seu poder de visão e cura. Ela conta com a consultoria do pajé Huni Kuin Dua Buse e de Cristine Takuá.

A Flecha 6 Tempo e amor é inspirada pelo livro Regenerantes de Gaia, de Fábio Scarano (Dantes, 2019). Ela aponta para o amor incondicional como meio de geração e regeneração da vida e indica caminhos para sonhar, cuidar e integrar Gaia.

A constelação Selvagem também esteve na École Domaine du Possible [Escola Domínio do Possível], uma escola e sítio de permacultura experimental criada em 2015 por Françoise Nyssen, Jean-Paul Capitani e Patrick Bouchain e amplificada pela cooperação com a editora Actes Sud e sua rede de autores e criadores. Baseada na curiosidade e no prazer de aprender, ela recebe alunos do jardim de infância ao 3º ano para aprenderem no coração da natureza, em forte conexão com tudo o que é vivo. A escola incentiva a pesquisa independente e experiências de aprendizagem ativa, respeitando as singularidades e ritmos de cada estudante e desejando provocar a capacidade de compreender o significado do que vivenciam. 

Foi uma visita emocionante, que fez sonhar possíveis intercâmbios com territórios como as Escolas Vivas e o de Silvanete Lermen e novos rumos para o Selvagem. 

 

Um Comentário

  • Elizabeth Medeiros Pacheco disse:

    Amo essas flechas como pessoa mulher professora
    uma experiência lúdica mágica científica existencial rara
    o ciclo selvagem é a mais potente invenção de “ tornar comum “ o heterogêneo

    Lindo lindas lindos

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