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Artes e DesenhosCadernos e Livros

VITALOCENO, PARA UMA CABEÇA VEGETAL

By 24 de fevereiro de 2023outubro 23rd, 2023No Comments

Texto de Mariana Vilela

“O que podem as plantas nos ensinar? Como fazer do meu corpo canal erótico para polinizar e vegetalizar as relações produzindo outras texturas e humores de mundos?”. Parto destas perguntas para pensar e realizar a performance Vitaloceno, para uma cabeça vegetal, que surgiu com forte inspiração dos textos de Emanuelle Coccia e do Ciclo Selvagem.

Num insight me vi com uma cabeça vegetal, feita de linhas emaranhadas e cultivo de algumas plantas. Um ser vivo. Vital. Não a antropomorfização da planta, mas o contrário, a vegetalização do ser humano. Num desejo de convocar essa força nata das plantas de fazer simbioses, cocontaminações, alianças entre heterogêneos e corpo resiliente. Um corpo que não representasse uma planta, mas pudesse buscar o estado vital, no qual a conexão estabelecida com o vegetal fosse da ordem corporal e espiritual e não intelectual, na tentativa de promover um corpo pensante com uma arquitetura cooperativa. Um ser habitante de dois mundos: corporal e espiritual. Não em oposição, mas em fluxo contínuo. Assim como a planta que habita a escuridão subterrânea buscando alimento com suas raízes e com suas folhas habita a atmosfera buscando o sol para realizar a fotossíntese. “E foi tão corpo que foi puro espírito”, como muito bem escreve Clarice Lispector no seu romance Perto do coração selvagem. Não há corpo separado de espírito. O corpo é o espírito agora!

A forma que encontrei para viabilizar esse trabalho foi confeccionar uma máscara, assim eu traria um outro estado de corpo quando eu a vestisse. Sei que o sentido desta palavra, pós pandemia, traz acoplado significados de morte, restrição e adoecimento. No entanto, trago-a aqui em seu sentido teatral e ritualístico.

Minha formação inicial é em teatro. Estudei muitos anos o teatro de máscara, aprendi com o professor Fernando Linares a arte da manipulação e confecção. Com a técnica do empapelamento, que consiste em cobrir uma superfície com camadas de papeis rasgados, pude dar forma à máscara vegetal com uma bexiga de festa. Em seguida coloquei uma manta de fibra de coco e a cobri com muitos emaranhados de linhas de costura, para finalizar acrescentei algumas plantas: bromélias, dinheiro-em-penca, jiboia e musgos. Então logo vêm as perguntas: Seria possível esse consórcio de materiais? Linha de costura, papel, cola e plantas? As plantas sobreviveriam? Só o saberia a partir de uma disposição à experimentação!

A arte é esse lugar onde as fabulações agenciadas ganham vida e os materiais não são matérias mortas, mas coisas vivas, “emaranhados criativos” que propõem comunicações. Vitaloceno é uma aposta de subversão da lógica do antropoceno para possibilitar outras narrativas (escritas e visuais), de forma centralizar a vida como perspectiva central de criação de mundos.

 

@marianavilela.art

https://www.marianavilela.com/

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