Se pensarmos no futuro pautados em uma única narrativa, em um tempo linear, somos lançados a um amanhã cada vez mais distante; fixados à ideia de ‘produzir’ o amanhã, perdemos o tempo presente. E se, como sugere Ailton Krenak em Futuro Ancestral (Companhia das Letras, 2022), fôssemos capazes de sustentar uma postura de abertura, de acolher a inovação que chega junto a cada nova criança, a cada recém-chegado em Gaia e abríssemos espaço para que se criem relações entre múltiplas experiências de tempo e formas de vida?
Para fazer circular diversas narrativas sobre a vida, o Laboratório de Atividades do Amanhã (LAA) promoveu a exposição NHANDE MARANDU: Uma História de Etnomídia Indigena. A exposição acontece no Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro, com abertura em 11 de novembro de 2022 e encerramento em 30 de abril de 2023. Esta é uma oportunidade de transmitir mensagens que nascem de lugares de afetação com a vida – experimentada em toda potência e multiplicidade pelos povos indígenas – buscando abrir outros sentidos, aumentar o repertório e instaurar outras narrativas visuais, para além das cultivadas por séculos pelo olhar colonizador.
A exposição conta com a curadoria de Anápuáka Tupinambá, Takumã Kuikuro, Trudruá Dorrico e Sandra Benites. O mote é apresentar ao público os povos indígenas como seus próprios sujeitos comunicacionais, refletindo sobre o lugar da autoria indígena e a etnomídia. Com mensagens comunicadas através de múltiplas linguagens, Nhande Marandu é composta por obras de Denilson Baniwa, Ailton Krenak, Zahy Guajajara, Sallisa Rosa, Jaider Esbell, Gustavo Caboco, Brisa Flow, entre outros artistas e comunicadores contemporâneos.
O Selvagem se fez presente através da Flecha 1 – A serpente e a canoa, exibida pela primeira vez no Museu do Amanhã. Com ela viajamos por teorias científicas contemporâneas e memórias das culturas ancestrais. O fio condutor deste episódio costura duas narrativas: a da canoa cobra, memória originária de povos rio negrinos, e a serpente cósmica, presente em mitos de origem de diferentes culturas, vista como a dupla hélice do DNA, código de memória presente em tudo que é vivo. A viagem percorre uma sequência que entrelaça saberes indígenas e hipóteses científicas sobre o surgimento da Vida.
Um material complementar encontra-se disponível no formato de Caderno Selvagem, com acesso gratuito através do site. Ele é um mapa de viagem que apresenta os impulsos e caminhos de pesquisa, oferece o roteiro escrito e imagético e traz as biografias dos artistas envolvidos, muitos deles presentes na programação de Nhande Marandu. Outro desdobramento que aprofunda os estudos e a viagem é a conversa online entre Anna Dantes e Ailton Krenak, quando do lançamento da primeira Flecha.
Texto: por Ana Otero
Edição: Mariana Rotili
Fotos: Divulgação