Pytun Jerá – O Desabrochar da Noite é um Caderno Selvagem preparado a partir da fala que Carlos Papá fez na roda de conversas Céu, durante o Selvagem, ciclo de estudos sobre a vida no Teatro do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, em 14 de novembro de 2019.
Em 2023, estudantes de Expressão Vocal de 3ª fase do curso de graduação em Artes Cênicas da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), em Florianópolis, têm mergulhado nas páginas e entrelinhas dos Cadernos e experimentado no corpo as ativações contidas ali.
O entendimento do escuro como fonte da criação de vida atraiu a atenção e conduziu as investigações cênicas do grupo. Ive Luna, professora da disciplina, conta que a leitura conjunta de Pytun Jerá encantou a turma e gerou muita conversa. Na aula seguinte ela projetou o caderno Desligue as Luzes e Escute nas paredes da sala. Com desenhos realizados pela artista Zoé Dubus durante o Ciclo dos Sonhos, o caderno é um desdobramento do ciclo que aconteceu em abril de 2022, mediado por Ailton Krenak e com a participação de Nastassja Martin, Leandro Altheman, Sidarta Ribeiro, Cristine Takuá e Moisés Piyãko.
Os estudantes experimentaram sonorizar os desenhos em conjunto, tendo corpo e voz como instrumentos. Perguntas como “qual seria o som desta página? Que atmosfera sonora emerge de um desenho? Como vocalizar o invisível’’ despontaram durante o processo.
Ive convidou Mariana Rotili, integrante da equipe Selvagem, para participar das aulas. Mariana esteve lá no dia 25 de abril para compartilhar caminhos e experiências com o Selvagem e projetar a Flecha 3 – Metamorfose. Levou também o livro Metamorfoses, de Emanuelle Coccia (Dantes Editora, 2020), leu alguns trechos, apresentou os desenhos de Luiz Zerbini e buscou fazer associações entre as imagens e a pesquisa vocal, entre o desabrochar da noite e o desabrochar da voz. Falou da voz em estado de flor e lançou perguntas a serem experimentadas no corpo nos próximos encontros: Como soa a voz em flor? Como é estar à flor da voz? Em estado de dança, Caderno Selvagem escrito por ela, também compõe as referências bibliográficas da disciplina.
Borrifados com um banho de folhas feito por Juliana Nabuco, do Nii Atelier, para a Vigília da Oralidade do Ciclo Memórias Ancestrais, o grupo partiu para experimentações vocais coletivas, em roda. Com partículas e aromas da floresta sobre a pele, entoaram cantos de invocação e cirandas.
As ativações que os conteúdos Selvagem provocam têm gerado ramificações surpreendentes, cumprindo o bonito devir de, mais do que oferecer respostas, criar novas perguntas. O comentário geral era de que as Flechas e Cadernos transmitem conhecimentos profundos e amplos com leveza e precisão e são fáceis de serem aplicados nas aulas. Assisti-las com os corpos acesos pelas práticas é oferecer terra bem cuidada para receber boas sementes. O corpo conduz o caminho.
Abaixo, alguns trechos dos experimentos gravados pela turma.
A ideia é que os materiais levantados sejam trabalhados ao longo dos encontros e que os conteúdos do Selvagem sejam a base de uma dramaturgia a ser levada a público ao final do semestre.